E08T01 Marketing Explicado – Como recrutar para Startups
Neste episódio de Marketing Explicado, vamos, principalmente, explorar o empreendedorismo e perceber qual o papel do marketing na incrivelmente difícil tarefa de recrutar para startups.
Criar uma startup é um dos desafios mais complicados que podemos ter ao longo das nossas vidas. Aliás, dar este passo representa ir contra o percurso profissional estabelecido como norma pela sociedade. De maneira idêntica, obriga-nos a desafiar a racionalidade de procurar a situação mais estável possível a nível contratual e salarial e fazer algo radicalmente diferente do que foi feito por quem nos rodeia, amigos, irmãos, pais e avós. Ser empreendedor é algo a que muitos aspiram e tantos outros celebram, mas que poucos têm a capacidade de concretizar.
Se pensarmos bem, os desafios iniciais de uma startup são quase inultrapassáveis. Visto que, por muito dinheiro que tenhas, ele não é suficiente. Igualmente, por muita experiência que tenhas, vais errar mais do que desejarias. Por fim, por muitos contactos que estejam na tua rede, poucos te vão dar a mão e ajudar-te a dar o primeiro passo. O caminho do empreendedor é um caminho solitário.
Claro que não tem de ser sempre assim e que existem estratégias para mitigar estes desafios. Hoje, gostaria de vos falar sobre Recrutamento e Selecção para startups.
Recrutamento e Selecção para startups
Começo com uma pergunta, talvez a questão fundamental que serve de base a este tema: como recrutar sem ter nada para oferecer? Com toda a certeza, se tivesses a possibilidade de oferecer um salário acima da média, um pacote de benefícios premium e uma perspectiva promissora de carreira, a maior parte dos teus problemas estavam resolvidos. O factor crítico de sucesso seria apenas a tua capacidade de encontrar as pessoas certas para a função certa. Mas arrisco-me a dizer que o teu caso não tem nada a ver com este. Se estás a criar uma startup e queres encontrar a equipa ideal, o mais provável é não reunires nenhum dos critérios que te indiquei. Assim, pouco importa se consegues identificar os melhores talentos se não tens argumentos para os aliciar.
No entanto, somos empreendedores e a nossa expertise é resolver problemas difíceis. Existem algumas soluções para o problema do recrutamento em startups, estratégias que te vão ajudar a ultrapassar um dilema semelhante ao do ovo e da galinha. O que vem primeiro? Os recursos para pagar uma equipa ou uma equipa para gerar recursos?
Para vos ajudar a resolver este puzzle, vou começar por partilhar a minha história para que possam aprender com os meus erros e evitar cair nas mesmas armadilhas. Assim, a minha história é a de um rapaz de 18 anos, estudante universitário, que nunca tinha pensado em ser empresário nem tinha acesso a todos os recursos e oportunidades que um ecossistema empreendedor desenvolvido proporciona.
O empreendedorismo deve ser levado a sério
O meu primeiro projecto empreendedor começou com uma paixão, como provavelmente acontecerá com a maioria de vocês. Três colegas de universidade que se decidiram juntar com o intuito de comprar e vender livros académicos usados. Inesperadamente, a ideia funcionou, as pessoas aderiram e decidimos concorrer à primeira edição do prémio de empreendedorismo Melhor Ideia de Negócio FCSH-Nova Santander-Totta. Depois de vencermos o primeiro lugar, as coisas tornaram-se sérias, tão sérias que assustaram dois membro da equipa e sobrei eu, com um projecto promissor nas mãos e um prémio para levantar com a condição de dar o passo de formalizar a empresa. Não sei qual será a vossa idade nem situação de vida, mas pensem no seguinte antes de se comprometerem com um projecto: fundar uma startup é compromisso legal com implicações jurídicas e financeiras extremamente sérias.
Foi precisamente esta primeira experiência falhada com potenciais sócios a abandonar o barco no momento da decisão que escolhi não avançar com um projecto que, anos mais tarde, me valeu o terceiro prémio do NOVA Idea Competition, nem com o projecto que ajudei a desenvolver num dos primeiros mega concursos de empreendedorismo em Portugal, o Energia de Potugal. As ideias eram boas, os projectos promissores, mas não havia fit entre a equipa de fundadores.
Já agora, a minha primeira empresa acabou por ser fundada por mim e por uma pessoa que conheci através de um anúncio de emprego que publiquei online. Procurei alguém com as competências que sabia que seriam fundamentais para o dia a dia do meu negócio e correu tão bem que ainda hoje trabalhamos juntos.
A equity é fundamental para recrutar para startups
Se, por um lado, a equipa fundadora pode parecer uma ideia romântica de um grupo de amigos a dar o seu melhor para uma causa comum, a prática de constituir uma sociedade tende a ser um pouco mais prática e realista. Será necessário dividir equity, definir papéis e distribuir tarefas. Lembram-se do que vos disse relativamente a não terem nada para oferecer aos candidatos ideais? Não é verdade, a participação societária na empresa é um dos trunfos que podem jogar quando precisarem de atrair os primeiros membros da organização. Por isso cuidado, não joguem as fichas todas com pessoas que tragam valor acrescentado.
O meu conselho é que procurem formar uma equipa fundadora com um número reduzido de elementos, se possível em número ímpar, que sentem à vossa mesa pessoas com uma grande competência técnica nos pontos core do negócio, o ideal é serem auto-sustentáveis durante os primeiros tempos, e que definam com a maior clareza possível a estrutura da organização. Alguém tem que ser o líder.
O crescimento da startup e o papel do risco
Mas a empresa tem que crescer e nem todos os funcionários podem ser sócios. Se tiverem essa possibilidade, comecem sempre por procurar soluções em outsourcing. Não recrutem um contabilista, recorram a uma empresa de contabilidade. Não contratem gestores de social media, recorram a uma agência. Infelizmente, nem sempre é possível utilizar esta estratégia, seja por motivos técnicos ou financeiros. É então que se passa ao próximo passo.
Depois da equity, a maior mais-valia que uma startup tem para oferecer é o risco. O risco pode ser uma variável assustadora, e é um deal breaker para a maior parte das pessoas. E ainda bem, porque não são essas as pessoas indicadas para trabalhar numa startup. O risco também pode ser algo aliciante, uma aposta que pode dar frutos no futuro. Esta é, talvez, a maior cartada que um empreendedor pode jogar quando vai ao mercado recrutar os primeiros colaboradores. Não poderá competir com as grandes empresas em segurança contratual, em salário, nem em benefícios ou extras. Mas pode prometer uma perspectiva de crescimento infinito.
Quanto maior for uma empresa, mais estruturada e burocrática será. As condições de entrada podem ser fantásticas, mas é incrivelmente difícil progredir drasticamente. Numa startup, o crescimento da carreira está ligada ao sucesso comercial da empresa. Quem entra primeiro, deve colher primeiro os frutos. É fundamental que o CEO cumpra esta promessa.
O processo para recrutar para startups
Depois de tomares a decisão de recrutar alguém, é fundamental garantir que te livras de qualquer bias durante o processo de selecção. A última coisa que queres será recrutar os amigos ou familiares. Digo-te, por experiência própria, que esse é um erro muito comum e que deves evitar a todo o custo, por mais confortável e aliciante que isso possa parecer, já que é muito provável que o melhor talento para a vaga não esteja na tua network. Para te ajudar, existem empresas de recrutamento que garantem a isenção do processo, mas também há vários passos que podes, e deves, tomar sozinho.
O primeiro passo é desenvolveres uma Employer Brand. Explica aos candidatos o que representa a tua empresa, quais os seus valores, qual a cultura organizacional que pretende construir. Em outras palavras, qual o seu propósito. Depois, materializa isso num website de carreiras que seja simples, directo e facilmente accionável por quem se deseja candidatar. Não te esqueças de comunicar nas tuas redes que estás aberto a receber candidaturas e, muito importante, não ignores quem te faz chegar o seu CV.
Provavelmente será a primeira vez que vais fazer um processo de recrutamento, mas tenta que ele seja tão profissional quanto autêntico. Não precisas de formalismos para garantir um bom recrutamento, a pessoa que hoje é o meu braço direito foi entrevistada na esplanada de um café ao lado de minha casa, mas é imprescindível teres uma visão e a capacidade de a comunicar.
O que acontece depois de recrutar para startups?
Seguramente não terás um bom pacote salarial para oferecer, nem uma perspectiva de carreira muito bem definida, mas a falta de burocracia e rigidez pode jogar a teu favor. Primeiro, descobre o que o teu público-alvo mais valoriza e depois faz o teu melhor para lhes proporcionar essas experiências. Na Get The Job e na The Agency não oferecemos seguros de saúde nem cartões de combustível, mas disponibilizamos Netflix gratuita e formação online à medida.
Recrutar uma equipa não é uma tarefa nada fácil, mas o desafio vem depois. É preciso acolher, integrar e formar as pessoas. É fundamental dar-lhes as ferramentas certas, motivá-las e manter o engagement. Estas pessoas passaram pelo teu processo de selecção pelo que, em princípio, serão funcionários excepcionais e talentos incríveis, mas não te podes esquecer de que a empresa não é deles. Não podes esperar que trabalhem tanto quanto tu ou se importem tanto quanto tu.
A responsabilidade está com o líder
Tu és o dono, o fundador, o líder. Terás que aprender a comunicar a tua visão, criar mecanismos que ajudem a formar a cultura interna, desenvolver os processos que garantem a circulação da informação e a qualidade dos processos. Tudo isto parece básico quando estás a começar, mas vai ficando mais difícil a cada nova admissão.
Para além de fazeres a tua parte no processo produtivo da empresa, terás também de dirigir o barco, de supervisionar tudo o que acontece a bordo, de inspirar e motivar a tripulação e de continuar à procura da melhor terra para desembarcar. Ninguém disse que o empreendedorismo era fácil, mas é por isso que é feito por empreendedores.
E08T01 Marketing Explicado, um podcast da The Agency, publicado a 13 de Abril de 2021, disponível em:
Acompanha todos os episódios de Marketing Explicado:
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